Conta uma lenda judaica que Deus, com suas mãos, usando argila e terra, moldou o animal homem. Criou, então, a polaridade masculina. Depois de pensar e refletir, descobriu, intuitivamente, que algo estava faltando. Retirou, assim, uma das costelas do ser recém-construído. Não se sabe bem se da direita ou da esquerda. Deste pedaço rígido e ósseo, criou outro animal humano, menos resistente fisicamente, e, portanto, um ser mais maleável e dócil – criou a polaridade chamada feminina. Assim, o que é masculino ficou pertencendo ao homem e o que é feminino, à mulher.
Esta lenda milenar patenteia para toda a raça humana a diferenciação na criação dos dois seres. Ao homem e à mulher foi entregue o paraíso, onde tudo o que queriam já existia. Restou um único pedido: não usufruir o fruto contido numa única árvore do reino dos vegetais. No entanto, segundo a lenda, a mulher demonstrou interesse em também usufruir o vegetal “proibido”. Procurou, de início, admirá-lo, dando origem, nesse momento, a cobiça, representada na história por uma serpente, animal rastejante (serpenteia rente com a terra), e colocado ali através da imaginação da mulher. Esta veio, então, a provar do néctar, oferecido, gentilmente, pela serpente astuta e materialista, que a levou, de imediato, a um êxtase serpenteador. Isto levou Adão a desorientar-se e a querer, também, provar do fruto da árvore proibida pela divindade. Como se tratava de fruto belo e apetitoso, não resistiu aos seus encantos, ficando, como Eva, dependente do mesmo.
Tudo isto encantou os seres humanos, levando-os a um estado hipnótico cristalizado que perdura até hoje, representado pelas suas genitálias. Como decorrência, esqueceram o Paraíso e esqueceram, também, de aproveitar as outras iguarias que a natureza oferecia. Assim, até hoje, nós, homens e mulheres, estamos fixados no chamado fruto proibido, que corresponde às nossas genitálias, masculinas e femininas, à serpente e maçã, ao pênis e à vagina. Isto ficou fixado na nossa mente milenar, no inconsciente coletivo, na nossa genética, nos nossos atos, no nosso ser, construindo o antagonismo e o oposto.
Agora, trazemos a você, leitor(a), a sugestão de iniciarmos uma reflexão sobre o homem e a mulher ao longo do seu caminhar paralelo e milenar, quando olham um para o outro irreconhecidamente, estranhamente e assustados com as diferenças existentes em cada um, e passam a criticar tais diferenças de forma contundente, repulsiva e agressiva. Estando ambos, homem e mulher, fixados em trilhos paralelos, continuamos, sem nunca nos encontrarmos. Em alguns momentos, nos damos às mãos para melhor nos equilibrarmos nos trilhos. Em outros, soltamos as mãos e batemos umas contra as outras, causando descarrilamento, mas nunca nos encontrando. Estamos cristalizados e hipnotizados num único ponto: os desejos fixados nas diferenças “repulsivas”. Um quer sobrepujar o outro, exigindo ser o herói. O outro passa a figurar como algoz, mas ambos permanecem próximos, porque um não pode sair do lado do outro: não há herói sem agressor. Continuamos neste “toma lá e dá cá”, entre tapas e beijos, sem reconhecer as diferenças. O homem continua exigindo que a mulher se submeta a ele. Afinal, esta foi criada a partir dele, dentro de um pensamento machista, que reflete um mundo ilusório por ele criado. Considera a mulher frágil, mas é nele próprio que falta algo – a costela.
Finalmente e temporariamente, unem-se, genitalmente, como numa gangorra, que quando se une embaixo, se distancia em cima e quando se une em cima, se separa embaixo. Nascem, desta união, dois homens, Caim e Abel, ao invés de um casal de filhos, como eles foram constituídos, predominando a polaridade masculina em relação à polaridade feminina. Os dois, da mesma polaridade, não conseguem se entender. Um inveja o outro e o mata, sendo rejeitado pelo casal. Começam, assim, as brigas, pelo fato de que um par não nasceu do primeiro casal, representando os opostos, e, sim, nasceram dois seres da polaridade que predomina até hoje – dois homens.
E o caminhar da humanidade prossegue até o momento, com os homens se julgando superiores. Isto enfraquece o relacionamento. No entanto, graças a Deus, os laços materiais começam a se afrouxar, na visão cristalizada nas genitálias do homem e da mulher deste novo milênio. A fixação do ser humano começa a elevar-se além de suas genitálias, ultrapassando o chacra (centro de captação de energia vital) umbilical, estando, agora, no plexo solar (estômago), e começando a olhar para o chacra do coração. É um bom momento para reflexão, para se pensar sobre o homem e a mulher. Andamos sempre separados, na ilusão de que somos opostos e não complementos. E este é o grande “vacilo” milenar. Precisamos nos conscientizar de que nunca fomos opostos, mas complementos. Devemos sair dos trilhos e caminharmos por uma trilha, unos, integrados e fundidos em sinergismo grandioso. É um momento para repensar e começarmos a nos encantar com a(s) diferença(s) do outro. Parafuso e porca, separadamente, não exercem suas funções, não têm utilidade e nem constroem. Somente unidos pelas diferenças é que se tornam grandiosos e indispensáveis à construção da vida. Parafuso e porca não representam apenas o pênis e a vagina, mas o ser total – o ser biológico, psíquico, social e espiritual.
Acordemos, pois, do transe primitivo e milenar de que o oposto é o contrário, e nos certifiquemos do oposto como complemento. Vamos expandir a nossa consciência e percepção de nós mesmos e do universo em relação a nós. Vamos nos conscientizar de que participamos, ao mesmo tempo, de um microcosmo e macrocosmo. São as diferenças se complementando, e não nos afastando, nos dividindo, criando choro e ranger de dentes, batalhas e guerras, destruição e desintegração. Vamos nos encantar com as nossas diferenças. A dor e o sofrimento são constantes e milenares, face à ausência deste nível de conscientização de que as diferenças são complementos. O homem não pode viver sem a mulher. Não consegue construir e prosperar sem a mulher. E nem esta constrói, prospera e evolui sem o homem. Ambos são complementos e não opostos. A partir de tal conscientização, encontraremos a paz, pois só assim compreenderemos as diferenças existentes entre nossos semelhantes. Agora, não importa se é outro homem (irmão ou amigo) ou outra mulher (irmã ou amiga) ou família. De forma similar, as suas diferenças constituem a grande diferença. Esta também é complementar. Representa uma parte que nos falta, como nós próprios faltamos a eles. Então, encadeados através das diferenças, formamos o que denominamos de teia da vida, como rede divina ou net cósmica formada por todos nós humanos, a partir das polaridades básicas: masculina e feminina.
No decorrer deste livro, relataremos vivências de homens e mulheres. Sem conseguirem se acertar e se entender, causam a si mesmos profundas seqüelas e cicatrizes em meio a esta luta selvagem – a dominação pela dominação dos opostos. Assim, leia com a devida atenção cada parágrafo e citação para refletir sobre você mesmo(a) e seu caminhar, homem e mulher. Toda a humanidade se encontra num momento de transformação. A caravana passa. Talvez, a última. Portanto, nos ocupemos da nossa transformação, saiamos desse estado de inércia, hipnótico, milenar, de Adão e Eva, dos desiguais e indisciplinados, dos que infringem as leis e dos cristalizados num único ponto e num único foco: a serpente, a árvore e seus frutos. Ainda bem que Jesus cassou o Antigo Testamento. As leis e os profetas só até João.Lucas,16:16.
O mundo é feito de diferenças. Prove, se integre com todas as árvores, com todos os reinos da natureza e do universo. Nós estamos contidos um no outro. Logo, é bobagem e estupidez, fixar-nos num único ponto, numa única árvore, num único fruto, se estamos contidos em todos. Deixemos-nos circular por toda a rede da vida iguais a notícias e informações Deixemos circular por toda a rede da vida notícias e informações, que integram a net, entrando em todos os lares e em todo o universo. É isto o que somos: um movimento constante, presente em todos os lugares ao mesmo tempo. Somos ondas esféricas, as quais se expandem continuamente, vindas da mesma fonte, que é Deus.